segunda-feira, 14 de setembro de 2009

TRUPE GOGÓ DA EMA NA TRILHA DO SABER EM PIAÇABUÇU

Ao chegar à cidade, recebidos pelos integrantes do Ponto de Cultura “Olha o Chico”, recebemos as recomendações do uso de roupas leves e protetor solar. Até então nenhum detalhe nos foi passado para não quebrar esse gostinho de curiosidade. O que nos espera? Será que vai ser uma trilha a pé? Ou vamos de moto? Será que vai ser de bicicleta? Enfim, quantas interrogações ficaram na cabeça de todos. De fato não tínhamos noção do que nos esperava.´
A curiosidade deu um gostinho especial a cada descoberta que essa Trilha nos proporcionou e vivenciando é que percebemos o porquê do nome “Trilha do Saber”.
A trilha tinha um roteiro a ser seguido. Boa parte aconteceria a pé e um trecho iríamos de carroça.
Na sede do Ponto de Cultura “Olha o Chico” fomos recepcionados pelos integrantes do projeto e pelo Griô Zé Correia. Iniciamos o processo pedindo benção aos deuses e a natureza para tudo de maravilhoso que estava por vir.
Foi um aprendizado contínuo. Aprendemos sobre nossas raízes africanas, saímos das histórias lidas e fomos também sentir o que nossos antepassados viveram. Foi-nos passado a rica história das construções das casas de taipa e essa foi vivenciada por nós. O Griô Zé Correia preparou o barro molhando e deixando pronto para que fosse pisado por nós. Ao som de cantigas acompanhadas por instrumentos percussivos pisávamos a massa até formar a liga que sujava e ao mesmo tempo amaciava nossos pés. Naquele momento já estávamos entregues a descobertas. Continuávamos esse processo preenchendo uma parede onde deixamos nossas marcas e energias registradas.

Após esse belo início seguimos na cidade a pé e cada um tinha consigo um instrumento para animar nosso “carnaval de conhecimentos”. Estávamos nas ruas da cidade cantando e conhecendo sua história. As paradas eram feitas nas casas de mestres que sempre nos recebiam com sorrisos largos e uma boa história para contar.
A primeira parada foi em uma praça, onde o Griô Zé Correia falou, com ar de autoridade e experiência de quem conhece todos da cidade, sobre a história daquele lugar e como foi o processo de escrita pela escassez de fontes para tal.
Seguimos a caminhada cantando, passamos por ruas estreitas, matas, casinhas simples e sempre recepcionados com sorrisos de todos os cantos. As pessoas ficavam nas portas e janelas de suas casas acenando embalados pelas cantigas. Chegamos então a mais uma casa onde paramos para conhecer a Dona Lourdes, mestre de Baiana e também artesã com uma linda potencialidade artística que aprendeu com a vida. Contou-nos sobre a tradição que segue e exibiu suas obras com grande alegria. Ficamos contagiados com aquela senhorinha, tínhamos que seguir e nos despedimos cantando e com um gostinho de quero mais.
Continuamos a nossa caminhada sempre cantando até a próxima parada. Essa aconteceu na casa do mestre Ferrete que estava nos esperando com seus parceiros do Guerreiro. Ao som da sanfona, zabumba e triângulo dava as ordens com seu apito e nós pisávamos o chão contagiados pela sonoridade. Ouvimos o mestre contar sobre a história daquele folguedo e fez questão de nos mostrar como guerrear. Naquele momento precisávamos vivenciar aquilo e fomos também guerrear com o mestre. Revezamos-nos naquela guerrilha e vivemos a sensação de participar e transpor as barreiras dos livros. Esse é um grande aprendizado!
Ainda ali recebemos o mestre Zuza que falou sobre a tradição e dom de cura. Para comprovar o dom que os deuses lhe concedia “examinou”, na frente de todos, o escritor Luciano Pontes e constatou “espinhela caída”. Na frente de todos se mostrou como bom curador fazendo a reza e comprovando que tinha fechado a cura. Após esse momento nos despedimos e seguimos nosso trajeto sempre embalados por cantigas e ao som dos instrumentos que tocávamos.
Para finalizar a trilha seguimos a viagem em um trecho de mata montados em carroças nos deliciando com a natureza e naquele momento a lembrança de cada momento vivenciado se misturava de forma nostálgica com aquele lindo cenário natural.
Retornamos para a sede da ONG onde fizemos nossas orações e agradecemos por tudo que vivemos com a certeza que não voltaríamos como chegamos e que da mesma forma que estamos levando uma bagagem cultural repleta também deixamos nossas experiências numa verdadeira troca formando um verdadeiro intercâmbio cultural. Isso tudo enriqueceu bastante a Trupe em nossa constante busca por aprimorar os conhecimentos.

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